Arquitetura Brasileira Além do Tempo

por Otavio Castro
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É importante que não se perca a identidade da nossa brasilidade. Uma arquitetura permanente fica fora do alvo das tendências e da moda, tem identidade, traz sentido à sua construção e ao seu entorno, inclui a sensação de pertencimento das cidades, além de contribuir na construção de histórias de pessoas que nela vivem

Arquitetura Brasileira: MASP, projeto de Lina Bo Bardi, foi o primeiro museu brasileiro do país – Foto: Unsplash

A arquitetura brasileira tem um peso identitário grande na nossa cultura. Somos conhecidos como o país do concreto armado, das edificações contemporâneas rígidas e amplas, temos respeito ao clima e ao conforto ambiental apenas abrindo as janelas. 

Somos fruto de um modernismo consolidado por Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi, Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha, Lelé, entre outros profissionais de altíssimo gabarito técnico e estético. Edificações projetadas por estes mestres da arquitetura são em sua essência atemporais e permanentes. 

Nós, arquitetos e arquitetas brasileiras, temos munição e conhecimento técnico para garantir arquitetura de qualidade e que nunca envelheça de forma banal ou efêmera. 

Nossos mestres nos garantiram formas que estão construídas há mais de 50 anos e ainda são atuais e importantes, por mais que as legislações urbanísticas e os tempos eram outros, ainda assim, ganhamos bagagem para continuar aplicando a boa arquitetura.  

A arquitetura brasileira passa por muitos momentos interessantes de consolidação técnica e estética que permeiam por décadas sem envelhecer ou perder a qualidade do viver. 

Arquitetura Brasileira: Palácio do Planalto tem curvas icônicas de Niemeyer, lembrando redes em casarões coloniais – Foto: Shutterstock

Além da arquitetura modernista, temos as construções com características tipicamente brasileiras projetadas e construídas por arquitetas e arquitetos desconhecidos. 

Casas com telhados coloniais, janelas e portas em madeira com venezianas, pintura branca e grandes varandas que acomodavam as famílias em momentos de lazer. 

Estruturas aparentes em madeira, fachadas inteiras em concreto armado, pisos cerâmicos e paredes feitas de solo e elementos naturais se consolidaram como arquitetura brasileira e vivem até hoje com qualidade técnica e estética.

Para atender a um mercado imobiliário e às novas classes emergentes, muitos profissionais de arquitetura e urbanismo se deixaram levar para uma produção de arquitetura com técnicas da moda, sem referência histórica ou técnica e sem qualidade em conforto ambiental. Tem sido priorizada, em muitos casos, a utilização de revestimentos para tornar a obra com uma estética agradável. 

Recentemente, a Arquiteta Camila Ghisleni publicou um artigo com o título “Entre o neoclássico, o kitsch e o luxo: a arquitetura dos condomínios brasileiros”, sobre os projetos de casas em condomínios fechados que trazem uma mistura pobre de técnicas arquitetônicas para tentar garantir um luxo que atende as classes médias altas que vivem nos novos subúrbios do Brasil, espelhando um modelo estadunidense de urbanização e arquitetura.  

Este movimento citado por Camila, criado no Brasil e até o momento sem nome, preocupa-se mais com o valor do piso do que com a entrada de iluminação natural, determina a forma em função do revestimento de fachada, atua no entorno de forma desconectada da vizinhança, cria uso aos espaços apenas para abrigar determinado tipo de mobiliário que satisfaça o ego do projeto. 

A partir disso, falar sobre arquitetura além do tempo é construir uma defesa que vem sendo validada durante anos pela sociedade brasileira e, hoje, está sendo melhorada e adequada aos dias atuais. 

É inclusiva e direta, pois inclui técnica e estética correspondentes à tecnologia e ao uso de materiais que sempre tivemos de forma simples e sem necessidade de elementos estéticos que dêem uma roupagem à obra, que a descaracterizam e a levam ao Kitsch.  

Arquitetura Brasileira: Edifício Louveira, de Vila Nova Artigas, é conhecido por suas cores vibrantes e arquitetura nada simétrica – Foto: Nelson Kon/CASACOR

O projeto de uma arquitetura que ultrapassa o tempo de forma saudável possui volume que se compreende por si só, não precisa de grandes revestimentos para ter textura ou forma interessante, não exige nada além do necessário para o seu bom funcionamento. 

Conceitualmente, podemos dizer que tudo que se constrói na arquitetura tem um motivo, mesmo que seja apenas uma pequena entrada da luz solar para criar uma sensação interna de aconchego.  

Nos tempos atuais, os projetos contemporâneos possuem elementos que se fundem ao modernismo e ao tradicional, mas é importante que não se perca a identidade da nossa brasilidade, que continua sendo eternizada pelas obras de mestres e de novos profissionais que buscam diariamente refletir em seus projetos de arquitetura, técnicas e estéticas já validadas unificadas às novas tecnologias construtivas, novos materiais e exigências sociais. 

Uma arquitetura permanente fica fora do alvo das tendências e da moda, tem identidade, traz sentido à sua construção e ao seu entorno, incluí a sensação de pertencimento das cidades, além de contribuir na construção de histórias de pessoas que nela vivem.

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